Conheça a estratégia para proteger seus
investimentos em períodos de alta volatilidade, como deve ocorrer nos próximos
meses
Autor: Flavia
Galembeck
O dia nove de novembro nem
havia amanhecido no Ocidente e o caos já batia o cartão nas bolsas asiáticas.
Do outro lado do Pacífico, a voz das urnas americanas contrariava todas as
pesquisas de intenção de voto. A disputa chegou ao fim com a eleição de Donald
Trump para a presidência dos Estados Unidos. A resposta foi rápida, como ocorre
quando algo vai de encontro às previsões do mercado financeiro. O Nikkei,
principal índice da bolsa do Japão, despencou mais de 6%, a maior queda desde
24 de junho, quando o resultado do referendo no Reino Unido pela saída da
Comunidade Europeia veio à tona.
Na Coreia do Sul, o índice de
referência Kospi chegou a cair 4%. Com o início do pregão das bolsas europeias,
o Dax, índice da bolsa alemã, caiu mais de 4% e o CAC-40, da França, 3%. Já o
ouro voltou a brilhar após três dias em baixa, com alta superior a 3%. A
tendência baixista, no entanto, perdeu o ritmo devido ao tom conciliador do
primeiro discurso de um Trump não mais candidato e já presidente eleito. Os
mercados se recuperaram à medida que o tom mais moderado foi sendo digerido nos
fechamentos de 9/11.
Com exceção da Ásia, onde o
Nikkei encerrou em baixa de 5,36%, e o Kospi, com queda de 2,25%. O Dow Jones e
o S&P 500, indicadores da bolsa americana, fecharam o pregão com altas de
0,4% e 0,38%, respectivamente. Lá, o ouro fechou com alta de 3,16%. Apesar do
rali, o FTSE, principal índice do Reino Unido, encerrou o pregão com
valorização de 1%, o CAC, com 1,5% a mais, e o Dax, com alta de 1,6%. Apesar de
no começo do pregão no mercado americano ter havido venda de dólares, para a
compra de iene, que acumulou alta de 2%, a moeda americana se recuperou ao
longo do dia.
O índice ICE, uma medida do
desempenho do dólar, subiu 0,7%, recuperando-se da queda de 2% do início do pregão.
Outro índice, o Dólar WSJ BUXX, encerrou o dia com alta de 0,9%. Por aqui, o
Ibovespa, que chegou a cair 3,7%, encerrou o dia com queda de 1,4%, a 63.258
pontos. Apesar da intensa volatilidade, houve crescimento no volume financeiro
do dia. Na véspera da divulgação do pleito, a bolsa paulista havia movimentado
R$ 8,3 bilhões. Na quarta-feira 9, o volume de recursos foi de R$ 10,5 bilhões.
Mesmo não tendo causado o mesmo efeito do Brexit, é consenso entre os analistas
que a volatilidade trazida com a eleição de Donald Trump deve marcar presença
nas bolsas mundo afora por um tempo.
Pelo menos até que novo
presidente dos Estados Unidos anuncie sua equipe econômica e as prioridades de
seu governo, separando o candidato do novo morador da Casa Branca, e as
promessas de campanha do plano de governo. “Até que Trump demonstre com clareza
como será sua gestão haverá volatilidade”, afirma Eduardo Coutinho, coordenador
do curso de Administração do Ibmec/MG. “Acredito que, assim como aconteceu na
eleição de Lula, em 2002, que trouxe uma ruptura e muita volatilidade, o
governo de Trump não terá nada de mirabolante no primeiro ano e que as ações de
impacto maior virão ao longo do tempo”, afirma Francisco Giffoni Meirelles de
Andrade, sócio da gestora Forpus Capital.
Para Andrade, a volatilidade
na bolsa brasileira pode ser aproveitada para a compra de papéis na baixa.
“Assim como aconteceu no Brexit, isso traz oportunidades.” O gestor recomenda
as ações de bancos, shoppings, empresas de energia e de saneamento, que devem
se beneficiar da queda futura dos juros no Brasil e têm maior previsibilidade
de receitas, logo, de pagamento de dividendos também. Já das commodities, ele
recomenda distância, ao menos por enquanto. Afinal, o momento é de cautela. “Os
investidores estão tentando trazer a carga de racionalidade, vendo o que faz
sentido dentro da realidade.”
Outra consequência da vitória
de Trump pode ser o adiamento do aumento da taxa de juros, na reunião de 14 de
dezembro, do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). A
BlackRock, a maior administradora de dinheiro do mundo, acredita que a
turbulência do mercado resultante da vitória de Donald Trump pode fazer com que
o Fed adie, novamente, o aumento das taxas. Isso elevaria o fluxo de
investimento estrangeiro no Brasil, que desde junho tem sido de, em média R$ 15
bilhões ao mês. Segundo Maurício Gaioti, analista da Ourominas, a tendência é
de que o dólar se mantenha em um patamar acima de R$ 3,20, mas não
ultrapassando R$ 3,40, ao menos enquanto Trump não anuncia sua equipe e
primeiras ações.
Caso ele volte a ter ataques
verborrágicos, a moeda americana poderia ultrapassar os R$ 3,40, o que levaria
o Banco Central a vender dólares para conter a alta. Sandra Blanco, consultora
de investimentos da distribuidora de produtos financeiros Órama, recomenda que,
diante desse cenário de muitas incertezas e volatilidade, o ideal é que o
investidor local divida seus recursos entre fundos multimercados, que trazem
elementos como juros e câmbio, geridos por profissionais, e dentro de um
horizonte de médio ou longo prazo. Segundo Blanco, esse investimento pode
concentrar entre 20% a 30% dos recursos, dependendo do perfil do investidor. Em
ações, a consultora recomenda uma fatia de entre 5% a 10%, para quem ainda
pretende ingressar na bolsa.
“Vale lembrar que haverá
volatilidade e há incertezas de curto prazo sobre a geração de resultados pelas
companhias, devido à deterioração da economia brasileira.” Já para a renda
fixa, há ainda muito espaço para se aproveitar de uma das maiores taxas de
juros do mundo, de 14% ao ano. Ela recomenda os títulos pré-fixados e atrelados
à inflação, como Letras de Câmbio que pagam 6,5% e CDB com remuneração de 7,5%
de juros reais ao ano. Para esse investimento, ela recomenda entre 50% e 60%.
“Temos bons frutos a colher daqui para a frente, com a aprovação do teto do
limite de gastos do governo, a intenção de reformar a previdência, a inflação
cedendo e a queda de juros. É hora de montar posições para aproveitar o cenário
mais à frente”, diz Blanco.
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Demita os prejuízos
Os que os especialistas esperam para os anos Trump
Bolsas americanas
Aumento da volatilidade. Empresas ligadas à infraestrutura devem subir se Trump
investir os US$ 500 bilhões prometidos
Dólar
Deve cair em comparação com o iene e o franco suíço e se valorizar ante as
moedas de países emergentes. Tendência de alta no longo prazo pelo corte de
impostos e aumento de gastos
Commodities
Ouro, metais preciosos e cobre devem subir, este pela infraestrutura. Petróleo
e carvão em alta, energias renováveis em baixa
Títulos do Tesouro americano
Os preços devem subir e os yields (retornos) devem cair. Se houver corte de
impostos, o dinheiro pode migrar para ações
Papéis de países emergentes
A perspectiva é negativa, com a revisão de acordos comerciais
FONTE: ISTOE DINHEIRO
LINK: http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/investidores/20161111/quanto-vale-dolar-trump/431551