sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Sobre as novas regras do cheque especial


Apesar de fazer parte da agenda de redução dos spreads, a atual gestão do BC tem se caracterizado por uma tendência bem menos intervencionista sobre o mercado, o que levou a questionamento diversos, não somente do setor financeiro

 


O Banco Central causou certo estranhamento ao mercado na semana passada ao divulgar novas regras para o funcionamento do cheque especial, incluindo um limite para as taxas de juros cobradas. Apesar de fazer parte da agenda de redução dos spreads, a atual gestão do BC tem se caracterizado por uma tendência bem menos intervencionista sobre o mercado, o que levou a questionamento diversos, não somente do setor financeiro.

Para o BC, no entanto, as medidas seguem uma decisão estritamente técnica e que a imposição do teto para os juros é “exceção das exceções” e se aplica apenas em último para lidar com situações de imperfeições competitivas no sistema financeiro. Para o BC, no caso do cheque especial, há falhas de mercado que justificam a intervenção regulatória Para esclarecer o assunto ao mercado, o Banco Central divulgou uma Nota Técnica referente ao cheque especial e sua utilização. Ela contém, em especial, duas medidas fundamentais para o funcionamento da modalidade de crédito. Estabeleceu-se o redesenho do produto Cheque Especial, permitindo a cobrança de uma tarifa sobre o limite não utilizado (0,25% para limites de crédito superiores a R$500,00, calculados sobre o valor do limite que exceder R$500,00), e a imposição de um teto para a taxa de juros cobrada de quem utiliza os recursos desta linha (8% ao mês).

Segundo o BC as medidas adotadas, visam, sobretudo, reduzir os custos ineficientes causados pela não utilização do limite pré-aprovado e diminuir o índice de recorrência de um produto emergencial de altos custos. Analisando as características do Cheque Especial, a Nota mostra que pelo lado da oferta há grande poder de mercado no fornecimento do produto, que a taxa de juro cobrada é pouco sensível ao risco de crédito do tomador de empréstimo e que clientes com menor nível de renda e escolaridade são os que fazem uso mais frequente do produto.

A estatística H que mede o grau de poder de mercado, indicia que o mercado de Cheque Especial não está em concorrência perfeita, mas também não é monopolizado. A consequência disto, quando aliada à baixa sensibilidade da demanda a preços e da taxa de juros ao risco de crédito do cliente, é a  impossibilidade de produção de benefícios para o consumidor. Pelo lado da demanda, no entanto, foi documentado que reduções em outras modalidades de crédito levam a aumentos na utilização do Cheque Especial, o produto possui alta taxa de recorrência mesmo apresentando taxas elevadas de juros, clientes com maiores rendas utilizam apenas uma parcela reduzida dos seus limites disponíveis e, assim como na oferta, a demanda pelo produto é insensível à taxa de juros e os clientes de menor renda gastam proporcionalmente mais que os clientes de alta renda. A elasticidade da demanda a preço é basicamente o quanto a demanda de um produto reage a mudanças no preço, quanto mais elástico maior a variação na demanda ao se variar o preço e vice-versa. O resultado apresentado na Nota Técnica mostra que a demanda por Cheque Especial é insensível à taxa de juros, ou seja, aumentos na taxa de juros reduzem timidamente o consumo pelo produto, diferentemente das outras modalidades de crédito. Quando observamos os menos escolarizados, a demanda por Cheque Especial é praticamente inelástica, corroborando com a afirmação que esse grupo de indivíduos são os que possuem menos alternativas à utilização do Cheque Especial.

A nota também usa elementos da Economia Comportamental para analisar essa modalidade de crédito, concluindo que o “imediatismo” contribui na redução da elasticidade da demanda. O “imediatismo” é, basicamente, priorizar o consumo imediato diante do consumo futuro, aumentando o endividamento e contribuindo para a baixa elasticidade, o consumidor prioriza o consumo imediato independentemente do custo do crédito e que aliado ao poder de mercado, abre espaço para o alto valor da taxa de juros.

Quando olhado para outros países, a nota apresenta como algumas regulamentações variam de país para país. Cada qual com suas particularidades no mercado de crédito, é comum a determinação de um teto para a taxa de juros de produtos emergenciais e regulamentações para cobrança de tarifas em algumas jurisdições. Segundo dados do Banco Mundial, 76 países usam algum tipo de limite para a taxa de juros, porém apenas 9 contam de fato com um teto limitante.

Finalizando, é observado mais um fato negativo neste mercado que é utilizado como justificativa para a realização das medidas limitantes no produto Cheque Especial. É o subsídio cruzado, no qual os tomadores de empréstimo de renda mais baixa, que são os que mais utilizam o Cheque Especial, pagam pelos limites não utilizados dos clientes com rendas mais altas. Isto ocorre pelo fato do Cheque Especial ser pouco sensível ao risco do tomador, fazendo com que o produto de crédito também possua características de serviço bancário. O subsídio cruzado ocorre, pois, há custos no sentido da disponibilização de capital imediato para os tomadores, mas como muitos desses limites não são utilizados pelos clientes de alta renda, os tomadores de renda mais baixas arcam proporcionalmente mais com este custo.

FONTE: DIÁRIO DO COMERCIO
 

 


Governo prepara mudanças no eSocial para janeiro, diz Marinho


Na FIESC, secretário de Previdência e Trabalho informou que será feita uma ampla simplificação do sistema, com foco na desburocratização. Ele participou de encontro, nesta quinta-feira (5), promovido pelo Conselho das Federações Empresariais de SC, em Florianópolis





O governo federal deve anunciar em janeiro mudanças no eSocial, que deve passar por ampla simplificação, antecipou o secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho. “Vamos apresentar o novo modelo muito mais simplificado e desburocratizado e também vamos apresentar um novo modelo para micro, pequenos e médios empresários”, afirmou ele, lembrando que o eSocial tinha cerca de 2000 mil layouts no início do ano e deve reduzir para 500 no início de 2020. “O eSocial vai mudar para tornar o ambiente de negócios melhor”, declarou ele, durante seminário, promovido pelo Conselho das Federações Empresariais de Santa Catarina (COFEM), nesta quinta-feira (5), na FIESC, em Florianópolis, com a participação de mais de 350 lideranças empresariais de todo o estado.


O eSocial é um sistema pelo qual as empresas comunicam ao governo federal, periodicamente, indicadores de saúde e segurança do trabalhador, informações trabalhistas, previdenciárias, tributárias e fiscais. Durante a palestra, Marinho fez um panorama das diversas medidas tomadas pelo governo ao longo do ano em áreas como a fiscal, econômica, privatizações e concessões e chamou a atenção para a modernização das Normas Regulamentadoras (NRs). “Quando cheguei na Secretaria, sabia que era complicado, mas não sabia que era tanto. As 37 NRs da saúde e segurança do trabalho permitiam 6.970 tipos de multas. Estabelecemos um grupo de trabalho para fazer a customização das normas dentro da comissão tripartite. As 10 primeiras NRs já foram customizadas e as outras serão melhoradas ao longo de 2020. Estamos num processo gradativo de alinhar sem perder de vista a segurança e a saúde de quem trabalha”, explicou.



Outro assunto abordado foi a Medida Provisória 905/19, que institui o Programa Verde e Amarelo. Uma das metas é gerar 1,8 milhão de vagas para os jovens nos próximos três anos. “O programa é extenso e estamos colocando que, preferencialmente, esse jovem seja treinado pelo Sistema S. A ideia é propiciar aos jovens que buscam o primeiro emprego um atrativo porque mesmo quando melhora a economia, quem entra por último no vagão do crescimento são os que buscam o primeiro emprego”, observou.


Para o presidente da FIESC, Mario Cezar de Aguiar, o Programa Verde a Amarelo vem ao encontro das demandas da indústria catarinense e brasileira. “Melhora as relações de trabalho, com perspectivas de aumento do emprego e de crescimento econômico. Estamos estudando as medidas e esperamos que o Congresso Nacional aprove a MP, que é altamente positiva para o país”, avaliou.

Em sua exposição, Aguiar chamou a atenção para a diversificação da indústria e da economia catarinense e destacou que o estado tem 27 cidades entre as 100 brasileiras com maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e registra o menor índice de desigualdade social (0,65). Também é o segundo mais competitivo do país. O estado tem a sexta maior economia do país, com um PIB de R$ 277 bilhões, ocupa a primeira posição no abate de suínos e produção de pescados e é o segundo maior produtor de frango do Brasil. Outros segmentos catarinenses que se destacam em nível nacional são o têxtil e vestuário, plástico, móveis, cerâmico, máquinas e equipamentos, alimentos e construção civil. “Santa Catarina é um estado de empreendedorismo e oportunidades. Nosso desempenho é melhor que a média brasileira”, ressaltou.

Aguiar também chamou a atenção para o desequilíbrio entre a arrecadação de impostos e o retorno dos investimentos. “A arrecadação de tributos federais em 2018 foi da ordem de R$ 58,8 bilhões, mas o retorno ao estado foi de apenas R$ 7,7 bilhões no período, a quarta pior relação entre o que se contribui e o que se recebe do governo federal”, salientou.

  
FONTE: FIESC